Caminhada

O nosso nome ouve-se bem alto, a música dispara e o coração acompanha aquele ritmo alucinante, os primeiros sinais da adrenalina brutal que nos espera, uns segundos à frente, começam a dar os primeiros impulsos. Estou cego e nada ouço, não vejo e nada quero ver, não ouço mas também não quero ouvir. As nossas pernas caminham sozinhas sem precisar de qualquer ordem para o fazer, o tronco embora nu deixa de sentir qualquer brisa, qualquer arrepio, os punhos estão cerrados e nós estamos aparentemente preparados para o que vem a seguir. É agora que a cabeça mergulho num turbilhão de emoções. O caminho é demasiado curto para conseguir dissipar alguma da adrenalina que agora bomba ferozmente dentro do nosso corpo adormecido sem dar tréguas ao nervosismo, o caminho deveria ser demasiado curto para não parecer tão longo, mas estende-se infinitamente. Os batimentos cardíacos ouvem-se já mais que o ambiente que nos envolve. O primeiro passo para as escadas está dado, a primeira perna e o corpo atravessam as cordas automaticamente, de uma forma tão harmoniosa que nos faz sentir que nascemos para ocupar aquele lugar. Agora estou mesmo no centro, com todas as luzes a incidirem em mim. Sabe bem esta tensão... é necessária muito longe do desconfortável. Nem sequer as cordas que me rodeiam conseguem suster esta vontade absurda lutar, a minha vontade estende-se além daquele espaço limitado, a minha vontade é megalomana e se fosse material por certo que não caberia em lugar algum. Os próximos segundos são desconcertante. Choca a vontade incontrolável do confronto violento do corpo-a-corpo com a vontade de conseguir por meros segundos concentrar-nos no que vamos fazer e no que nos dizem para fazer.. mas é impossível. As emoções estão no seu auge, a adrenalina segue à frente delas, o nervosismo esse já me abandonou há muito, mas a ansiedade é uma força crescente. As forças interiores estão quase a explodir, é preciso começar! É preciso darem liberdade à violência que nos domina, é preciso que tudo comece para que tudo acabe rapidamente, é preciso que nos deixem fazer aquilo que gostamos, é preciso que comece o combate, deixem começar estes 6 minutos só meus... por favor deixem-me ir JÁ!
O combate começa e mais uma vez a cabeça anda a roda... mais uma vez estou cego e nada ouço, não vejo e nada quero ver, não ouço mas também não quero ouvir. A desconcentração é muita, mas a vontade de ganhar acompanha-a lado a lado. O meu objectivo está bem presente: GANHAR dê por onde der. O resultado, esse só se saberá no fim quando já não houver forças pra mais, quando a respiração e energia já nos tiverem praticamente abandonado. Mas nós precisamos disto! O final dir-nos-à como nos saímos, mas o final também só chega para aqueles que praticam kickboxing com o amor e dedicação necessárias!
No fim disseram-me e disseram bem "Estar lá em cima não é para todos. Parabéns"... Mas sem dúvida nenhuma que estar lá em cima, em pleno ringue frente-a-frente com alguém que partilha connosco esta necessidade de praticar tal arte, é, repito, sem sombra de dúvidas TAMBÉM PARA MIM!


Nunca me senti tão bem...

2 comentários:

Joana disse...

Finalmente entendi a essência do kickboxing. Cool :)

R. disse...

É verdade, o kickboxing tem MUITOOO mais do que mostra. Aqueles seis minutos são os seis minutos que mais tranquilidade me dão na vida :D